6 coisas que aprendi por ter removido cirurgicamente meu pênis

Há várias coisas que o típico “macho” nunca quer ouvir durante a sua vida, como “acabou a cerveja”, “sua esposa pegou você no flagra” ou “o seu Camaro de 1975 que comprou na faculdade deu perda total”. Mas nenhum destes exemplos chega perto do horror de receber do médico o diagnóstico de câncer peniano. Bem, em 2009 isso foi exatamente o que aconteceu com Alex Duke. As boas notícias é que os médicos haviam descoberto com bastante antecedência, antes que ele pudesse se espalhar pelo corpo. As más notícias é que estava em um estágio avançado o suficiente para só restar uma opção: Cortar o pobre membro fora.

Alex acordou da cirurgia sem câncer, mas também sem um pênis. Sentamos com ele e perguntamos como era perder uma parte muito grande (metaforicamente) do seu corpo. E ele nos contou…

6 – SUA PERSONALIDADE TODA MUDA
Assim que sai do hospital (eunuco), esperava que minha vida voltaria ao normal. Mas seis anos se passaram e eu posso dizer que nunca voltou. Na verdade, poucos meses após a cirurgia todo mundo me falava que eu estava uma pessoa completamente diferente. E todas as mudanças da minha personalidade podem ser ligadas a minha penectomia (esta não é a pior palavra de todas?), que se parecia com isso:

Antes da cirurgia eu falava bastante, era confiante e bastante social. Depois? Sentia que eu era uma subclasse da sociedade. Homens que têm seus pênis removidos cirurgicamente lidam com o trauma por anos. E o fato de não poderem recuperar (já explico melhor) torna tudo pior. Muitos homens têm invejas que envolvem ter o tamanho muito pequeno, mas ninguém te ensina como lidar quando você tem um Tamanho Zero.

Chegou ao ponto da minha auto estima afetar a qualidade do meu trabalho. Mesmo meu trabalho não envolvendo meu pinto de modo algum. Não importava. De repente eu era o cara do escritório que não conversava mais porque eu sentia que: a) Nenhuma mulher iria falar comigo e b) todos os homens eram “mais homens” que eu. É só depois que você o perde que percebe que a desde pequeno a vida dos homens sempre se resume a, “Tudo vai ficar bem; tenho meu pênis aqui.”

E também tinha o fato de ter que lidar com as pessoas descobrindo, revivendo aquele momento o tempo todo. Uma vez, durante um exame, o médico estava checando uma hérnia minha (o teste “vire a cabeça e dê uma tossida”). Ele teve que conferir o prontuário. Acidentalmente ele tinha me marcado como mulher no começo do exame (mesmo com minha barba e falta de seios). No fim ele viu meus testículos e corrigiu tudo. Até se desculpou por achar que eu era trans.
Pode ser engraçado se acontecer em um filme do Adam Sandler. Não tanto quando está colocando seus registros médicos em risco.

5 – ROTINAS FICAM MUITO MAIS DIFÍCEIS

Se você é um homem, deve ou não pensar como a sua cabeça de baixo afeta o seu dia a dia, suas atividades não sexuais. Depois da penectomia, as tarefas diárias podem ter o potencial de dar problemas.
Primeiro, você precisa repensar no seu modo de urinar. Toda penectomia é única, devido ao local onde o pênis é arrancado (eu tenho aflição só de escrever isso). Não tem um modo padrão para urinar, você tem que experimentar. E ter toalhas a disposição. A uretra dos homens está em um ângulo que aponta para cima, mas como não há um pênis você fica com um jato que mais parece a água que sai de um chafariz. Mictórios não são mais uma opção, a não ser que você queira encoxar eles. Sentar também é difícil. Depois da cirurgia você fica só com um cotoco, e por causa disso o xixi voa em um ângulo que de alguma forma chega na parte de trás da privada. Depois de muito treino eu aprendi um jeito de me ajoelhar no ângulo certo para mijar “normalmente” em um vaso sanitário comum.

Mas mesmo isso não é ideal. Tive que conversar com o gerente de um restaurante uma vez porque, pela perspectiva de visão do funcionário, parecia que alguém estava fazendo sexo, estranhamente silencioso, no banheiro. Curiosamente ninguém duvida quando você diz não ter um pênis. Uma vez perguntei ao gerente por que ele acreditou tão rápido, e ele rapidamente me disse “não ter motivos para acreditar que era mentira.”

Mas não é só urinar. As vezes tomar banho pode ser doloroso se a água estiver muito quente. A área toda ficou muito sensível. Depois da cirurgia comecei a usar uma camisinha parcialmente desenrolada para me proteger. Não das DSTs, mas do maldito chuveiro (que enrolei 6 meses para arrumar).

Até mesmo me vestir virou um problema. Por causa da sensitividade do cotoco passei a usar calças que deixavam bastante espaço nas virilhas e que não ficavam caindo. Apertar também pode fazer com que o sangue flua para lugares que eu não gostaria. Isso me faz lembrar de…

4 – SEXO FICA COMPLICADO

Com um caule de meio centímetro, ainda consigo ter ereções e ejacular. Mas a amputação tirou todo o excesso de pele e ter uma ereção é bastante doloroso. Mas como eu tenho uma esposa, o sexo ainda é importante. Não transar seria injusto com ela. Não ficamos com outras pessoas, então decidimos arrumar um substituto. Acabamos indo fazer compras em uma sex shop voltada a artigos para lésbicas.

Nestas lojas há a maior variação de tamanhos de pintos artificiais. A vendedora estranhou ver um homem lá dentro. Depois de esclarecer quais pintos falsos funcionavam melhor, ela nos sugeriu um cintaralho. A meta era encontrar um que eu poderia controlar, mas que não fosse desconfortável de usar.

A vendedora da loja me ajudou mais do que os médicos nesse assunto. Depois de experimentar alguns modelos, achamos uma solução. Um que ficasse centrado acima da área pubiana, perto do umbigo.

O movimento do ato fica diferente quando seu pênis temporário está uns 8 cm acima de onde deveria estar. Isso causa uma dor nas costas. Isto é sacrificar uma dor pela outra, mas vale a pena por causa da minha esposa. No fim das contas a dor nas costas é melhor que um pinto assado, e ajuda no meu casamento.

Falando de dor…

3 – O PÊNIS FANTASMA (não é uma piada do Star Wars)

Um membro fantasma é uma condição na qual uma pessoa que teve um membro amputado ainda o sente, como se estivesse preso no corpo. Muitos amputados relatam sentirem dor no membro inexistente. Meu ex-pênis tem o mesmo problema. As vezes quando vou urinar eu me pego tentando segurar o ar onde meu pênis costumava estar e fico frustrado. Outras vezes até sinto que ele está lá, mas junto com aquele formigamento quando o pé dorme.
Mas o que mais acontece é eu jurar que ele está lá, por causa da enorme dor.

Conversei com uma pessoa que teve o braço amputado pouco antes da cirurgia e ela me disse que o braço parecia estar constantemente quebrado. Lembro que fiquei brincando com isso, mas logo depois da cirurgia eu acordei sentindo que meu pênis tinha sido amarrado como um daqueles balões compridos de festa. Fui ao banheiro, olhei para baixo e senti uma dor latejante na região onde não era mais para latejar, para o bem ou para o mal, nunca mais.

Aconteceu bastante. Mas como na maioria dos casos de membros fantasmas, melhora com o tempo. Os surtos de dor ainda acontecem, mas felizmente só umas vezes por ano. Infelizmente a dor “fantasma” só introduz a dor real. E é por isso…

2 – PRECISA DE PROTEÇÃO

Não uma proteção sexual. Já ouviu pessoas usando “chute no saco” ou “chute no pau” como se fosse a mesma coisa? Não deveríamos fazer isso. Ser chutado no pinto é uma história completamente diferente de ser chutado no saco. Se não acreditar, faça o teste. Eu espero.

Existe uma lógica evolutiva na localização do pênis. Levar um chute no pênis dói muito menos do que ser socado no saco. Ter um pênis em cima dos testículos dá um nível de proteção. Um ao qual eu não tenho mais. Alguns homens nessa situação colocam uma prótese para proteção. Mas como eu disse, por causa do meu cotoco ser muito sensível (e não no bom sentido) eu não posso usar próteses sem me sentir muito desconfortável.

Quando fui ver o médico a respeito disso ele disse que a melhor opção era uma coquilha, daquelas que atletas usam. Mas pergunte para qualquer jogador de baisebol e eles vão dizer que elas causam muita irritação. E eles só precisam usar durante os jogos.

Acabei ficando com 3 opções de merda: Eu poderia me acostumar com uma coceira esporádica por causa da coquilha, eu poderia usar a prótese e me sentir desconfortável o tempo todo ou eu poderia correr o risco de sofrer dano nos testículos e não vestir nada. Escolhi a coquilha, mas isso faz a escolha de uma calça ser mais difícil. A não ser que eu queira chamar a atenção para a minha virilha (o que não é o caso). Quem sabe aquelas roupas antigas não voltam a moda?

1 – NÃO EXISTE A POSSIBILIDADE DE EU RECUPERAR MEU PÊNIS

Vou ser direto: Meu pênis já era. Nunca vai voltar. Se você o decepou acidentalmente enquanto tentava fazer sushi peladão, você tem cerca de um dia para costurar ele de volta. Mas com o meu tipo de câncer isso foi impossível. Se tivesse uma célula cancerígena escondida como ninja nos meus países baixos, poderia se espalhar no tecido.

Transplantes penianos não são uma opção. Mesmo que eu tivesse a garantia de não ter câncer, só teve um caso de transplante bem sucedido. E ainda estamos em fase experimental. Todos os amputados vão te dizer que próteses não chegam nem perto da realidade, e no fim você não vai poder usar nenhuma. A medicina moderna não gosta muito de chegar perto de assuntos penianos (transplante especialmente). A única exceção é quando querem ajudar os velhos a ficarem de pinto duro.

Temos muitas opções a sua disposição.

Faloplastia é uma opção, mas é incrivelmente cara. Eu teria que desfigurar outra parte do meu corpo para conseguir quantidades necessárias de pele e tecido. E no fim iria ser só um apêndice esquisito. Mesmo se eu fizesse um, não iria ser capaz de sentir nada devido a falta de nervos. E o câncer ainda poderia atacar este negócio.

Tive que escolher entre meu pinto e minha vida. Não é a melhor solução, mas me forçou a perceber que a vida é mais importante que ereções. Se tem uma coisa que aprendi foi isso.

Texto traduzido, a pedido do Sweetlicious, por Marcos Vinícius Petri, a partir do original “6 Things I Learned Having My Penis Surgically Removed“.