Sweetlicious:

O clitóris interno

26 Comentários
02/maio 2012

Reflita: Em mais de cinco milhões de anos de evolução humana, apenas um órgão passou a existir com o único propósito de proporcionar prazer – o clitóris. Não é necessário para reprodução. Nem é como o pênis, através do qual passa a uretra, usado também para urinar. Sua única função – a sua finalidade singular – é fazer a mulher se sentir bem!

Infelizmente, é justamente porque o clitóris não tem nenhuma função além do prazer feminino que a ciência tem negligenciado estudá-lo tão detalhadamente quanto o órgão masculino. Demorou séculos até que a ciência alcançasse uma descoberta pertinente: o verdadeiro tamanho e anatomia do clitóris.

Pergunte à próxima pessoa que encontrar onde está localizado o clitóris. Provavelmente, a maioria das respostas vai ser algo como: “É aquele pequeno bulbo na ponta dos pequenos lábios”, ou “É o botão sob o capô”. Embora essas respostas não estejam exatamente erradas, a verdade é que a maior parte do clitóris está, de fato, no interior da pelve – ou seja, é muito mais interna do que externa. Mesmo mulheres bem informadas sobre seus próprios corpos, reagem com uma mistura de fascinação e confusão quando descobrem que seu clitóris se estende profundamente por dentro delas.

O nome científico para o “pequeno botão” externo ou “bulbo” é glande. Não deve ser confundido com glândula. Glande simplesmente se refere a uma pequena massa circular. Essa estrutura reduzida contém cerca de 8.000 fibras nervosas sensoriais – mais do que em qualquer outra parte do corpo humano e quase o dobro da quantidade encontrada na cabeça de um pênis! Equivocadamente, estudiosos pensavam que o clitóris era completamente composto da glande; e porque ele é super sensível e tudo que qualquer um pode ver do órgão, sua confusão é traduzida pela maioria das mulheres hoje em dia. O fato é que, no entanto, a maior parte do clitóris é subterrâneo. Consiste em dois corpos cavernosos (corpus cavernosum, quando se refere à estrutura como um todo), duas cruras (crus, quando se refere à estrutura como um todo), e os portais clitorianos ou bulbos.

A glande está ligada ao corpo ou eixo do clitóris interno, o qual é constituído por dois corpos cavernosos. Quando eretos, os corpos cavernosos envolvem a vagina de lado a lado, ao redor dela, como se dessem um grande abraço!

O corpo cavernoso também se estende além, bifurcando-se novamente para formar as duas cruras. Essas duas pernas estendem-se em até 9 centímetros; apontando para as coxas, quando em repouso, e voltando-se em direção à coluna quando clitóris fica ereto. Para visualizá-los em repouso, imagine a crura como o osso externo da galinha (conhecido popularmente como wishbone), juntando-se ao corpo do clitóris onde se fixam à cartilagem do púbis.

Próximo a cada uma das cruras, em ambos os lados da abertura vaginal, estão os portais do clitóris. Esses ficam localizados sob a grandes lábios, internamente. Quando se enchem de sangue, eles de fato ”algemam” a abertura vaginal, causando a expansão da vulva. Ao excitar esses pequeninos, você terá uma entrada vaginal sedenta, mais apertada e sensível para explorar!

Desenho do clitóris ereto

O que significa tudo isso? Bem, para começar, podemos finalmente concluir o velho debate acerca de orgasmos vaginais vs. clitorianos.

Em 1953, Kinsey escreveu: “As paredes da vagina são muito insensíveis, na grande maioria das mulheres (…) Não há evidência de que a vagina é sempre a única fonte de excitação, ou mesmo a principal fonte de excitação erótica em qualquer mulher.”

Então, em 1970, Germaine Greer publicou O Eunuco Feminino, que zombou teoria de Kinsey. Ela escreveu: “É absurdo dizer que uma mulher não sente nada quando um homem está movendo seu pênis dentro da vagina. O orgasmo é qualitativamente diferente quando a vagina está preenchida por um pênis, em vez de vaga”.

Desenho do clitóris em repouso

Curiosamente, ambos estão certos. A vagina não é a única fonte de excitação, apesar de ser possível estimular o clitóris interno perfeitamente com a manipulação, deslocamento, e exploração da vagina com um pênis ou outro aparato.

Muitas mulheres podem chegar ao orgasmo sem nunca inserir nada dentro de si mesmas. Eles causam a ereção do clitóris interno estimulando a glande, bulbos e cruras, com o contato externo. O corpo cavernoso é o tecido erétil adicional que abrange a vagina, uma área altamente erógena quando estimulada internamente.

Vale lembrar que o orgasmo feminino não acontece apenas no clitóris e na vagina. É muito mais complexo e envolve também o funcionamento de múltiplos nervos, tecidos, músculos, reflexos e esforço mental. Algumas mulheres conseguem chegar ao orgasmo com o pensamento. Outras têm orgasmo simplesmente flexionando seus músculos pélvicos. Há muitas variáveis e componentes envolvidos, é extremamente importante lembrar que não existem duas pessoas iguais. O que funciona para uma mulher pode não funcionar para outra. Em outras palavras, tudo é personalizado sob o capô.

O que realmente assusta é a grande quantidade de desinformação que existe em livros didáticos, guias profissionais médicos, e na internet. O fato triste é que apenas a partir da década de 1990 os pesquisadores começaram a usar ressonância magnética para estudar a estrutura interna do clitóris. Até então, os detalhes intrínsecos do pênis já eram bem conhecidos.

A urologista Helen O’Connell, do Hospital Royal Melbourne, começou a entender melhor o constituição nervosa microscópica do clitóris usando ressonância magnética – algo que já havia sido feito em relação à função sexual dos homens nos anos 1970. Em 1998, ela publicou suas descobertas, informando ao mundo médico do verdadeiro alcance e tamanho do clitóris. No entanto, ironicamente, no mesmo ano, começavam a surgir ​​na América o Viagra, para curar a disfunção eréctil masculina.

Em 2005, a Associação Americana de Urologia publicou um dos relatórios do Dr. O’Connell sobre a anatomia do clitóris. O próprio relatório ainda afirma: “A anatomia do clitóris não tem sido estável ao longo do tempo, como seria esperado. A maior extensão o seu estudo tem sido dominada por fatores sociais. (…) Alguns livros de anatomia recentes omitem a descrição do clitóris. Em comparação, há algumas páginas dedicadas à anatomia do pênis”. O relatório também explica como é aparentemente impossível entender a estrutura interna do clitóris com apenas um diagrama. Vários desenhos são necessários para realmente obter uma compreensão abrangente do mesmo.

Imagem 3D do clitóris ereto

Infelizmente, apenas recentemente em 2009, os pesquisadores franceses Dra. Odile Buisson e Dr. Pierre Foldes deram ao mundo da medicina a primeira e completa ultra-sonografia 3D do clitóris ereto. Eles fizeram esse trabalho durante três anos, sem financiamento adequado. Graças a eles, agora entendemos como o tecido eréctil do clitóris se enche, envolvendo a vagina – um avanço que explica como o que era considerado orgasmo vaginal é, na realidade, um orgasmo clitoriano interno.

Dr. Foldes realizou cirurgias em mulheres que sofreram mutilação clitoriana, restaurando o prazer de mais de 3.000 pacientes circuncidadas. Ele também fica assombrado com a falta de estudo em relação ao clitóris:

“Quando voltei para a França para tratar a mutilação genital, fiquei espantado que ninguém nunca havia sequer tentado. A literatura médica nos diz a verdade sobre o nosso desprezo pelas mulheres. Durante três séculos, há milhares de referências a cirurgia peniana, nada sobre o clitóris, exceto para alguns tipos de câncer ou dermatologia e nada para restaurar a sua sensibilidade. A própria existência de um órgão de prazer é negado, medicamente. Hoje, se você olhar para os livros de anatomia que todos os cirurgiões possuem, você vai encontrar duas páginas acima. Existe uma excisão intelectual real”.

Imagem 3D do clitóris ereto em perfil

Então, agora você sabe. Como se toda a repressão, as influências culturais, a culpa, as impressões da infância e os medos impostos pela sociedade não bastassem, temos também as políticas medicinais que nos mantêm no escuro. A grande notícia é que pesquisadores como o Dr. Buisson, Foldes Dr. e Dr. O’Connell estão pavimentando o caminho para um maior conhecimento … e maior prazer!

Fonte: Museum of Sex

 

* Lasciva é jornalista e deseja ir fundo no tema do sexo. Narra suas aventuras sexuais e amorosas no blog lascivacontatudo.com

26 Comentários
  1. Nanna

    Esse post mudou a minha vida e certamente a vida de muitas mulheres! Incrível como o que se chamou de ciência, token da validade, confiabilidade e verdade, continua cega por preceitos morais antiquados e discriminações deslavadas. Ao avanço da ciência feminista!!!

  2. Raiza

    Seu post é realmente de utilidade pública.Vou divulgar.Obrigada por escreve-lo!

  3. reos

    daniel eh um cara idiota neh??!!o carinha do terceiro comentario,bom mais enfim muito esclarecedor vou aplicar esse conhecimento nas minhas praticas sexuais!!!!vlw

  4. aspls

    Ótimo post, eu dei uma pesquisada sobre o assunto e realmente vi como ainda existe bastante mistério no ar… creio que ainda hoje muitas mulheres não conseguem chegar ao orgasmo simplesmente por terem sido “educadas” pela sociedade de que não é normal uma mulher buscar prazer numa relação, isso realmente me indigna, pois isso acaba criando um bloqueio na cabeça delas, e como uma boa parte do prazer feminino é mental acaba dando no que dá: muitas mulheres não conhecem o orgasmo e algumas ainda falam que não gostam de sexo… realmente isso me deixa grilado… Lasciva, eu tenho duas duvidas: 1a.: Por acaso você sabe até onde vai esse clitóris interno? quero dizer, ele chega até as regiões anais? isso é uma informação importantíssima para os garotos que querem convencer as suas namoradas para uma pratica anal…. 2a.: por acaso você tem algum e-mail de contato? tenho muitas dúvidas e assuntos que gostaria de debater com alguém, porém conheço apenas homens dispostos a conversar abertamente sobre esses assuntos, seria bom poder contar com uma mulher de vez em quando… Obrigado desde já, aspls.

    1. Lasciva

      olá, rapaz! obrigada. preciso pesquisar melhor sobre isso, mas acho que o prazer da região de trás não está ligado ao clitóris. caso o contrário, não haveria tantos homens que curtem dar o cu. mas de fato o orgasmo fica bem mais intenso quando há penetração anal. se você masturbar uma garota e colocar o dedo ali quando ela estiver prestes a gozar, deverá convencê-la disso. me escreve: [email protected] demoro a responder, pois recebo muitos emails, mas faço questão de dar respostas a todo mundo. besos.

  5. Jonas

    O clitóris da minha mulher é interno, já comprovei, é dentro do meu bolso. Cada vez que coloco minha mão nele ela pira.

    1. Jisohde G. Posser

      Gostei, jonas… muitas mulheres gozam com isso, dai a razão de pobres serem rejeitados pelas mulheres, eles não dão prazer nenhum a elas! E ai vem a piada: Barata e Carinho – Elas tem pavor de baratas, restaurante barata, jóias baratas, casas baratas, viagens baratas, por outro lado adora carinho! Iates carinho, viagens carinhos, hotéis carinho, etc. Existe homem mais feio que o jogador Neymar? Ele ficou famoso, tem o clitóris das mulheres no bolso, e hoje elas estão gozando atoa! Enlouquecem por ele, acham ele lindo! O cara parece mais com um primata mal evoluído, despenteado e descolorido, mas elas deliram quando o vê na TV. Já to ciumando de minha mulher, quando o vê pela televisão, ela chega ao orgasmo com mais facilidade do que quando estamos na cama, pô!

  6. Caim

    Post sensacional!! É por esse e todos os outros que adoro o Sweetlicious! Faltam ainda muitos estudos sobre a evolução do clitóris – nada faz sentido em biologia sem isso. Alguns acreditam que ele existe devido aos mesmos genes que no homem fazem o pênis, tal como os homens tem mamilos sem produzirem leite. Pela terminologia (“corpo cavernoso”), devem ter visto que os dois órgãos têm muito em comum, mas olha como são diferentes anatomicamente!!

  7. Isis

    Dá ate vergonha da humanidade…como vc pode conhecer a si mesmo internamente, se quem detem o poder para tal, simplesmente se isenta de pesquisar certas coisas? Ridiculo! Ainda bem q tem cientistas q pensam diferente!!

  8. Mah

    Muito interessante! Eu ia morrer sem saber desse ”movimento” que o clitóris faz ou sequer que ele se estende tanto. Que bom que eles tem feito essas cirurgias. É uma brutalidade e além do mais todas merecem esse prazer.

    1. Márcio

      Realmente é uma coisa facinante, estudos para entender e consequentemente melhorar a vida sexual das mulheres, tabus estão sendo quebrados, antigamente o orgasmo feminino era considerado mentira, agora ja explicam o porque e ja é provado que o orgasmo das mulheres é ainda mais “poderoso”… daqui a pouco os homens que vão ter que pedir igualdade, as mulheres já estão passando por cima kkkk

  9. Daniel

    Achei meio idiota comparar estudos sobre o pênis contra clitóres. É meio óbvio o por quê disso e discordo que tenha a ver com políticas medicinais. Basicamente, o primeiro trata de reprodução, e do estudo completo do órgão. Posso estar errado, mas me arrisco dizer que os estudos médicos sobre pênis não envolvem isoladamente prazer sexual. E com certeza havia MUITO estudo sobre vagina, vulva, bem antes de começarem a focar no clitóris. Nada contra, sou a favor do conhecimento e do direito das mulheres de gozarem. Só critico uma mulher vir querer comparar esses estudos, quando claramente se vê que nenhuma mulher foi citada como estudiosa / pesquisadora do assunto.

    1. Lieli

      Realmente, nós, mulheres, precisamos de uma pessoa super esclarecida como vc, caro Daniel, para nos dar o DIREITO ao prazer! Obrigada. Agora eu posso dormir mais tranquila, já que tenho seu consentimento pra gozar.

    2. Lasciva

      A primeira a pesquisar o órgão foi a urologista Helen O’Connell; e entre as pessoas que fizeram a imagem 3D do clitóris está citada a Dra. Odile Buisson. Preste mais atenção naquilo que lê, moço.

    1. ASR

      Nada a ver em relação ao tamanho, porque se você notar o clítoris está na parte mais externa em relação a vagina. Quanto a grossura, pode ser que sim… mas ai depende se a mulher for arrombada ou se o cara não sabe trabalhar com a ferramenta