A mão rechonchuda entrelaça-se aos pelos grossos da barba numa carícia excitante. É como esfregar os dedos por entre os pentelhos à procura de prazer. Tocar aqueles fios longos e crespos excita-lhe de uma forma um tanto peculiar. Alojado entre largas pernas rosadas, André balança o queixo no vão do decote, enquanto voraz, lambe os seios de Dora.
Deitada sobre uma cama improvisada no interior do trailer, ela arrasta André com as pernas para junto de si. Seu corpo é deslocado com o movimento, parando sobre o batente de madeira. Com uma das mãos a beliscar-lhe os mamilos, André abre o zíper à procura do pênis. Apesar de sua baixa estatura, o instrumento é grande, até mesmo para um crioulo. Estava no ramo errado, pensava. Devia era ser ator. Não um artista de circo, mas pornográfico! Em um universo onde os exageros são a principal atração, suas disparidades entre a vertical e a horizontal seriam um sucesso. No entanto, não tinha do que se queixar. Apesar do baixo salário, das péssimas condições de vida, do ridículo por qual passava toda noite… Espera um pouco! O que continuava a fazer por lá? Muitas vezes se perguntava. A resposta? Estava ali no meio das cobertas, esparramada sobre o sujo lençol amarrotado. Dora. O calor que subia do meio daquelas pernas prendia-lhe ao circo como um viciado; um dependente. Era sua droga. Sua tara. Desde moleque, imaginava-se entrouxado com Dora. Mesmo quando ainda era Dorinha, a filha intocável do Barão.
Ainda pequenos, brincavam juntos enquanto o espetáculo acontecia no picadeiro. Passeavam pelas barracas de guloseimas, corriam por entre tendas espalhadas no chão batido de terra e escondiam-se do resto da trupe no final do dia para ensaiarem um futuro espetáculo, qual chamariam de “O Beijo da Morte”. Nele, ambos entrariam no meio da sessão e se beijariam na frente de todos, inclusive do Barão. Só que o tempo voou mais rápido que os sonhos, e fora deles, apenas Dorinha cresceu. André continuou do mesmo tamanho de quando moleque. No entanto, só fora se dar conta de que era um anão, tempos depois, ao frequentar a escola e ser hostilizado por suas pequenas diferenças. Dorinha, por sua vez, fora embora assim que a adolescência chegou. Fugida de um “cruel” destino, fora em busca de um possível tratamento para sua maldição circense. Tempos depois, uma mulher coberta por um xaile misterioso chega ao circo e passa a viver isolada no antigo trailer da família do Barão.
Certo dia, ao chegarem numa cidade do interior, um novo cartaz junta-se aos demais para anunciar uma bizarra atração: Não Percam. Apenas Esta Noite “Dora A Mulher Barbada!”.
Desde então, em um misto de alegria e excitação, André esquecera a história da indústria pornográfica para se dedicar ao circo e sua antiga paixão. O problema é que anão sempre foi tara de muita gente, e mesmo num circo com engolidores de espadas, contorcionistas e faquires a disputa por um pequenino bem dotado era grande. Nem o fato de estar amigado à filha barbuda e esquisitona do dono tornava-se empecilho para certas colegas de trabalho. E por mais que André, desde sempre, tivesse olhos apenas para Dora, a carne era fraca. Ainda mais a daquele bife a rolê.
Ela já estava sem nada por baixo do vestido, apenas o fogo em busca de combustível. Ele vestia o preservativo como podia. Não queria engravidá-la. Não podia legar ao mundo uma criatura assim. Um híbrido daqueles dois? Jamais! Se bem que se pensassem no futuro do circo, até que não seria má ideia. Com certeza não gastariam muito mais do que com o macaquinho do realeijo. Uma jaula e o que comer com um pouco d’água daria conta do pequeno peludo. Pequeno Peludo… Venham, venham! Não percam essa noite “Victor: O Pequeno Peludo!” Não, melhor não arriscar. André já tinha problemas demais só para encaixar sua grande atração no meio daquele picadeiro molhado, que dirá por um filho no mundo. Ainda mais no mundo instável em que viviam.
Arremessou para longe o pequeno Victor de suas ideias e invadiu a mulher macia. Apesar das complicações de sempre, aquilo era barbada. Forçou o membro ao ajeitar-se sobre o colchão e sentiu a camisinha ranger na entrada. Ela era gorda e peluda, contudo, mantinha a entrada para o paraíso lisa e apertada. Devia ser sua água com sais. Após o espetáculo, tomava uma chuveirada rápida e se punha a lavar a boceta com água morna. Enchia uma bacia de alumínio e a salpicava com bolinhas de pedra ume. Volta e meia André lhe perguntava o porquê de tudo aquilo. Ela dizia que era para continuar com a boca fechada. Ele não entendia. “Mas gosta de comer, não gosta?” Excitava-se ao ouvir aquilo e partia para o ataque. “Acaba logo de escaldar esse bacalhau que já estou cheio de fome!” Ela lhe chamava de palhaço. Ele não dizia nada. Pelo menos quando maquiado. Deixava para se livrar do ridículo de todas as noites na pia de Dora. Ao passo que ela fazia o asseio com os sais ele desbotava a cara de palhaço com a água. “Vai se lavando enquanto estou nos meus sais”. Só que aquela noite, André chegara à paisana. Havia deixado sua palhaçada em outro lugar.
— Vai, Pirulito… vai!
…
— Vai, Pirulito!
— Porra, Dora… Já te falei pra parar com isso. Meu nome é André, porra… André.
— Tá bom, Pirulito… Já sei. Agora mete vai…
— Porra. Pirulito, Zora?!
— Zora? Espera aí…
…
— Que história é essa de Zora?
…
— Quer dizer que você continua saindo com aquela charlatã?
— Eu não estou saindo com ninguém. Fui lá só pra ela pôr as cartas. E não muda de assunto.
— Mudar de assunto é o cacete, Pirulito! Não falei que queria você longe daquela feiticeira?
— Feiticeira, Dora… Feiticeira?
— Está defendendo ela, seu chiuaua? Aquela ladra de homens!
— Que isso, Dora. Que ladra de homens…
— Cala a boca, Pirulito!
— André, porra…
— André é o cacete. Pirulito. Pi-ru-li-to!
— Eu vou embora.
— Vai. Vai pros braços daquela macumbeira. Aposto que botou alguma mandinga na tua bebida.
— Eu nem bebi nada. Está falando demais.
— E esse bafo aí, é o que… Biotônico Fontoura?
— Não bebi nada, lá.
— Sei…
— Estava tomando uma com o Mamede do trapézio.
— Aquele lá é outro. Trapezista bêbado… Só aqui nessa espelunca. Qualquer hora boto ele na rua. Tenho pena é da Lourdes. Quando ele errar o braço é que eu quero ver.
— Não se mete, Dora. Deixa os outros pra lá. Em vida de marido e mulher…
— Sabia que foi a tua ciganinha que deixou ele assim?
— Deixou o que Z… Dora? Para de inventar história.
— Foi por causa dela que ele virou biriteiro.
— Que nada… O Mamede sempre bebeu com a gente. Além do mais, eles nem ficaram juntos muito tempo.
— Foi por isso mesmo. Ela queria tirar ele da Lourdes e o cara saiu fora. Só precisou de uma noite pra ela acabar com a vida dele.
— Como assim?
— Botou um troço na bebida dele e o cara ficou broxa.
— Que?!
— Broxa!
— Que isso. O Mamede é o maior comedor…
— Só se for de pastel. A Lourdes vem chorar as lágrimas dela é nas minhas barbas. Já tem mais de seis meses que o bicho não sobe.
— Eu em… Ainda bem que não bebi nada naquela tenda. Só comi uns bolinhos…
— De quê?
— Sei lá.
— Hiii…
— O quê?
— Bolinho, é? Não sei não.
— Para com essa porra, Dora. Está começando a me assustar.
— Eu não. Só estou te alertando.
— Para… Já chega, tá! Chega dessa merda que eu já estou broxando.
— Não falei…
— Porra.
— Tudo bem… Já parei.
— Hum…
— Só não quero que ela quebre o brinquedinho do meu Pirulito.
— André, Dora… André. Já te disse que Pirulito é pras crianças.
— Está bem.
…
— Agora vem terminar o que começou, vem… Vem que tua Barba Dora está igual criança essa noite… Doida pra chupar um pirulito!
Por, Tonico Senna.
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